domingo, 28 de abril de 2019

"Onde havia florestas, habitam almas" Galeria Kogan Amaro, em São Paulo


Um diálogo entre Luisa Almeida e Sani Guerra,  conecta gravura á pintura | Galeria Kogan Amaro, em São Paulo
Com curadoria de Ana Carolina Ralston, o diálogo entre gravura e pintura acontece no mezanino da galeria com obras inéditas
Dois suportes que dialogam e potencializam um ao outro por forças e narrativas complementares. Em comum, as obras de Luisa Almeida e Sani Guerra sugerem técnicas primorosas e revelam temáticas amarradas com precisão, o que permite a construção de uma interlocução entre as artistas. A exposição Onde havia florestas, habitam almas, com curadoria de Ana Carolina Ralston, cria pontos de conexão no mezanino da Emmathomas Galeria, entre os dias 30 de março e 4 de maio.
“De um lado, a pureza dos rostos talhados em madeira que nos revelam um corpo ingênuo, porém pronto para o combate. Do outro, a exuberância das cores entre as quais se detecta uma presença sublime, mas que não se pode decifrar completamente”, pontua a curadora.
Marcadas pela relação entre a temática adotada e o alto contraste, próprio da técnica, as xilogravuras da mineira Luisa Almeida apresentam ao observador personagens expressivos, inseridos em cenas construídas meticulosamente e geralmente marcadas por recursos cênicos – influência herdada de sua atuação em montagens de óperas e teatros. Parte de sua pesquisa gira em torno dos processos alternativos de impressão de gravuras em grandes formatos. Muitas vezes, faz uso de empilhadeiras ou rolos compressores, transformando suas produções em verdadeiras performances.
Objeto quase que onipresente em suas gravuras, a arma conecta mulheres de gerações distintas. Enquanto figuras femininas vão à guerra, crianças, ainda sem compreender o real significado da luta, as esperam, muitas vezes também armadas a defender-se do desconhecido. “O relapso das posições em que seguram os fuzis mostram a inocência que começa esmaecer com o conflito inerente, como se a artista buscasse examinar uma relação simbólica presente entre a sociedade acerca desse objeto”, comenta Ana Carolina.
Dona de uma carreira recente e já poderosa, a fluminense Sani Guerra se aproxima do universo criativo de Luisa Almeida pela adoção de uma instigante forma de criar, fazendo uso de uma espessa camada tinta a óleo, atribuindo a às telas uma infinidade de cores sobrepostas.
“Em seu pincel, a tinta ganha corpo e volumes que dão vida à fauna e à flora que circundam seu universo fantástico. Nesse mundo tão particular concebido por Sani, mergulhamos em sua linguagem fragmentada de memórias e referências quase em queda livre”, diz a curadora.
Verossimilhança é algo que a artista propositalmente parece desconhecer. Suas cenas combinam motivos variados. Pessoas, animais, plantas, objetos e edifícios são colocados lado a lado, em proporções e perspectivas pouco convencionais.
Em sua nova série, Seres do acaso, ela atribui ainda mais mistérios às cenas e histórias que cria. “Se antes as figuras não se encaixavam nos cenários pelo cartesianismo de nosso raciocínio, agora elas parecem flutuar, podendo ser tudo, todos ou até a ausência dos mesmos. Por baixo dos véus soltos em um jardim transformado pelas cerdas de Sani em opulentas florestas, podem viver seres mágicos também. E nesse cenário encantado qualquer imagem se torna possível”, finaliza a curadora.



                                        Macaé de Cima, 2019 óleo e acrílica sobre tela, 40x40cm


Mata Atlântica 4, 2019 óleo sobre tela, 100x70cm



                                                       Os dois, 2019 óleo sobre tela, 40x40cm

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